Senhoras e senhores,
A capoeira é uma expressão cultural brasileira que compreende dentre tantos elementos e significados: o de arte-marcial, o de esporte, o de cultura popular, o de dança e até mesmo musicalidade. Como dizem, em um dos nossos cânticos mais antigos: “capoeira é raça, é cultura guerreira, é um luta brasileira”.
Ela reflui, propriamente, relações sociais muito próximas às familiares, entre mestres e discípulos, sendo difundida por meio de grupos organizados e até mesmo individualmente.
Se diferencia das outras artes marciais por possuir um elemento ímpar: a tridimensionalidade.
Explico! Não é engessada pela fixação dos movimentos, da musicalidade e muito menos ainda pela doutrina. A capoeira, definitivamente, não tem compromisso com erro! Está, assim como o mundo, sempre em transformação, em rotatividade e em constante evolução.
Segundo a educadora e artista visual Laura Aidar: “A capoeira tem origem nos povos escravizados e se difundiu por todo o Brasil. Hoje é considerada um dos maiores símbolos da cultura brasileira. A palavra capoeira significa "o que foi mata", por meio da conexão dos termos ka'a ("mata") e pûer ("que foi"). Alude às áreas de mata rasa do interior do Brasil, onde era feita a agricultura indígena.
Acredita-se que tem origem com os fugitivos da escravidão, os quais utilizavam frequentemente a vegetação rasteira para fugirem do encalço dos capitães-do-mato.
Esses foram os primeiros capoeiristas. Mais adiante, ainda no período colonial, os negros irão disfarçar a capoeira introduzindo lhe mímicas, danças e músicas. Tudo isso servia para resistir à repressão da Polícia Imperial e da Milícia Republicana.
A capoeira foi uma prática proibida no Brasil até 1937, quando passa a ser reconhecida como um símbolo da identidade brasileira. Em 2014, a Roda de Capoeira foi declarada Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco.
Bem, porém o objetivo especial que nos reúne hoje aqui, nesta data do segundo dia do mês de agosto do ano de dois mil e vinte quatro é a consagração como empossado na Academia Goiana de Letras dos Militares – Academia Coronel Mauro Borges Teixeira, de nosso querido mestre, Ademercino Teles Tomé, o Mestre Guerreiro.
Mestre Guerreiro, doravante, representará perante nosso sodalício, bem como toda sociedade goiana e até mesmo nacional, a capoeira diante das agremiações culturais espalhadas pelo Brasil afora.
É ele o primeiro mestre a fundar cadeira cultural que tem como patrono o senhor Manoel dos Reis Machado, saudoso mestre Bimba, fundador da capoeira regional.
Eu, particularmente, tive a honra de conhecer o mestre Guerreiro, na segunda metade da década de 90, quando ainda jovem, fui seu aluno. Aqui acho que me engano com o tempo verbal, pois nunca deixei de ser aluno. Desde aquela data, dos meus primeiros de meus passos na capoeira, continuo aluno deste grande ser humano que, rotineiramente, me acresce de algum ensinamento.
É essa a vida de um mestre: servir de modelo para seu discípulo. Ser um homem de caráter e virtudes para que seus alunos também assim se revelem.
É por isso, senhoras e senhores, que mestre Bimba vive!
É por essas razões, sobretudo, que mestre Guerreiro, Mestre Jelon e tantos outros mestres viverão.
O legado, nessa ótica, seja talvez o bem mais importante deixado por homem.
Até para não atrapalhar os eventos práticos do Festival Luandê, vou por último apresentar um pouco da história do acadêmico-anhanguera, fundador da cadeira número 47, Ademercino Teles Tomé:
Aqui, mestre, peço permissão para ler exatamente, sem modificar nenhuma linha, o currículo que o eminente confrade me enviou.
Esse documento é rico! Lógico que vai ser ampliado pela rumos inevitáveis da vida.
Mas o seu registro nos anais da Academia não poderia ser feito melhor do que pelo próprio.
TRAJETÓRIA DO MESTRE GUERREIRO
Ademercino Teles Tomé, Mestre Guerreiro, natural de Miracema do Tocantins – TO, começou sua história capoeristica em 1988, quando teve seu primeiro contato com a arte. Mestre Jacó, seu primeiro professor, foi a inspiração para continuar difundindo essa grande paixão.
Em 1994, o atual Mestre Guerreiro, dando continuidade a sua formação capoeristica passou a treinar com o Mestre Suíno. No período de 12 anos, junto ao Grupo Candeias, Mestre Guerreiro passou por inúmeras dificuldades, experiências, emoções, cidades e estados que o influenciam e caracterizam um dos Mestres do Capoeira Luanda.
Sua trajetória profissional deu início em 1994, quando começou a dar aulas de capoeira no Jardim Vila Boa, na Academia Estilos. Seu esforço foi reconhecido quando foi convidado para ministrar aulas de capoeira na Faculdade Anhanguera, em 1997.
Lá, Ademercino recebeu da Secretaria de Educação de Goiânia um certificado qualificando-o como professor de ensino de primeiro e segundo grau.
Suas aulas eram tão apreciadas e fundamentais que equivaliam como aula de Educação Física.
A partir de 1998, a vida do futuro Contramestre passou por várias mudanças. A dedicação da expansão do grupo o levou a São Paulo, o que seria uma estadia para montar um trabalho, se tornou parte da sua bela trajetória com a capoeira.
Durante três anos da sua vida, Ademercino se dedicou a capoeira longe da sua esposa e filha, para implementar a arte no maior estado do Brasil.
Foram vários meses árduos e longos até se estabilizar. Sendo assim, conseguiu se estruturar para trazer sua família e realizar o sonho de criar raízes na cidade nova. No período de um ano, implementou aulas de capoeira na Associação de Bairro de Jandira, São Paulo (União Pró-Jandira).
Suas aulas se expandiram por condomínios, escolas e academias. Trabalhou em vários lugares por toda metrópole de São Paulo como: Esporte Clube Palmeiras, Sauvipe – Osasco, no Condomínio 2000 em Pinheiros, Academia Winner e Colégio Pinheiro Machado na Vila Yara.
No fim do terceiro ano, em 2001, o Contramestre retornou a Goiânia satisfeito com a estrutura e o novo projeto construído por ele.
Seu esforço e dedicação não foram em vão, tendo o reconhecimento de Contramestre pelo Grupo Candeias em 2001.
O Mestre Guerreiro retornava a São Paulo todo mês para avaliar e continuar ensinando os seus alunos recém-formados professores e ainda aperfeiçoar sua conquista.
Sempre em busca de novos horizontes, Mestre Guerreiro decide cursar Educação Física para contribuir com os ensinamentos que até então tinha aprendido com seus Mestres.
Formado pela Universidade Estadual de Goiás, sua formação em Educação Física foi essencial para desenvolver e expandir mais e mais o seu trabalho em centros de educação infantil.
Partindo dos ideais que acredita, faz uma parceria com seu amigo, Mestre Apache, e com um grande admirador de uma história surpreendente com a capoeira, Mestre Jelon Vieira e juntos idealizaram o Capoeira Luanda.
No ano de 2007, Mestre Jelon, Mestre Guerreiro e Mestre Apache, fundam o Capoeira Luanda, com uma filosofia focada no ensino pedagógico da cultura afro-brasileira e no desenvolvimento da criança e adolescente na sociedade, valorizando a perspectiva da cultura popular brasileira.
Com o Mestre Jelon, Mestre Guerreiro não aprendeu somente a capoeira, como também as várias facetas de um ser humano.
A partir de 2007, Mestre Guerreiro implementou a educação da capoeira em escolas diversificadas, como a Escola de Educação Bilingue (2007), Escola Interamericana (2009) e conquistando a posição de Coordenador de esportes em 2010, na Escola Canadense Maple Bear. Em 2012, Mestre Guerreiro foca também no seu trabalho como Instrutor de Lutas na Academia Bodytech.
Em 2008, participou de uma apresentação única e especial para sua carreira e sua amizade com o Mestre Jelon, que foi homenageado nos Estados Unidos e recebeu o prêmio de Honra como Patrimônio Nacional. A apresentação ocorreu na Casa Branca, em Washington D.C.
Mestre Guerreiro recebeu o reconhecimento de Mestre em agosto de 2013, por todas suas dedicações e trabalhos conquistados durante seus 25 anos de capoeira.
No ano de 2017, Mestre Guerreiro recebe um convite do governo de Puwakarta – Indonésia, para que com sua equipe participe do Festival de Artes Marciais da Indonésia, um evento onde os integrantes tiveram a oportunidade de mostrar a nossa cultura brasileira com a capoeira e conhecer a cultura das artes marciais de vários países.
Em 2009, 2017 e 2018 recebe uma Homenagem de Honra ao Mérito da Câmara Municipal de Goiânia, pelos serviços prestados a Capoeira de Goiás. Em 2015, recebe a Comenda do Mérito Esportivo – Wanderley Magalhães Azevedo, da Câmara Municipal de Goiânia. Em 2018, recebe o Certificado do Mérito Legislativo, da Assembleia Legislativa de Goiânia.
Todos esses prêmios demonstram reconhecimento pelo trabalho realizado por Mestre Guerreiro frente a cultura popular no Estado de Goiás.
Mestre Guerreiro supervisiona e contribui com sua presença e carisma em eventos nacionais nos estados de: São Paulo, Minas Gerais, Tocantins e em outros países como: Espanha, Estados Unidos, França, Colômbia, México, Peru, Costa Rica, Holanda, Itália, Inglaterra, na Indonésia, dentre outros.
Atualmente, no auge dos seus 35 anos de capoeira, ele dedica o seu tempo no ensino e supervisão de trabalhos de capoeira em escolas e em vários grupos de capoeira pelo mundo. e desenvolve trabalhos pela sua Associação - (Associação Capoeira Luanda, Goiânia-GO), sua atual sede.
O seu trabalho com o Capoeira Luanda é reconhecido pelo público em geral pelo ensino inovador e a divulgação da capoeira no Brasil e no Mundo.
Com sede em Goiânia e New York e filiais em vários países, na América na Europa e na Ásia, Mestre Guerreiro tem como objetivo apresentar uma proposta inovadora com a capoeira, no que tange a administração do processo pedagógico e metodológico de todos os nossos integrantes, divulgando e evoluindo em todos os aspectos relacionados com a capoeira e a cultura afro-brasileira.
Enfim, Mestre Guerreiro é um verdadeiro amante da arte Capoeira, pois dedicou e ainda dedica toda sua vida para encantar e ensinar através dela, o que resulta em um trabalho com muita qualidade e respeito.
Apesar de ser jovem, no ano de 2022, ele formou seus dois primeiros Mestres: Chuvisco e Tatiana, que sempre caminham ao seu lado repassando seus conhecimentos por onde passam. “A capoeira é assim, quando você a ama, ela acaba fazendo parte de você, do seu interior, do seu respirar, do seu pensar e por fim, do seu agir”.
Por fim, repito um pouco de meu próprio discurso de posse nesta Academia de Letras:
A frase, do hoje injustamente esquecido escritor italiano Carlo Lévi diz o seguinte: “O futuro tem um coração antigo”.
O futuro desta Academia Militar de Conhecimento de nada valerá se o coração desta Casa não bater no compasso herdado dos antigos, dos nossos patronos, fundadores e antecessores.
É nesse ritmo e nesse rito, na sequência dos exemplos que recebemos dos que homenageamos por esta Casa, que se construirá um futuro do qual as gerações sucessoras poderão se orgulhar do que fizemos, da mesma forma que hoje nos orgulhamos do passado.
Os antigos deixaram uma herança preciosa de trabalho por este Estado de Goiás, servindo-o sem dele nada exigir.
Assim continuamos e continuaremos, com o coração forte, voltado para o alto, coração antigo e à moda antiga, brando com os brandos, mas duro com os duros, para continuar escrevendo as páginas da mais bela história da cultura goiana.
Muito obrigado!!
José Lemos da Silva Filho - Coronel PM
Acadêmico Fundador da Cadeira nº 01
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