Ali, bem ali, numa pedra à margem esquerda, jusante , do caudaloso Paranaíba , sentado estava o meu avô João Pereira Machado .
Radiante como quem vive um sonho bom, do alto da ponte sob seus majestosos arcos, , olhava pra ele, vaidoso: "É o meu avô! Só meu!"
Caniço lançado às águas, vez ou outra, ele fisgava um dourado. Aquela cena, de repente, como visões liliputianas, transfigurava-se num reino encantado de Gulliver! Era como um sonhar acordado na companhia augusta do segundo grande herói da minha infância!
Como que hipnotizado pelo espetáculo das águas , explodindo em cataratas , meu vô parecia bem feliz por estar nos visitando, na São Simão das Cachoeiras. Se ele estava alegre, eu me sentia "levitando" de tão feliz.
Naquele momento, preso àquela agradável sensação , repetia comigo mesmo: "Aquele é meu avô. Eu tenho um avô! Que bom! E ele está ali embaixo , sentado naquela pedra!"
Foi um dia tomado de regozijo e contemplação. Na minha euforia, queria poder atrelar o sol à alegria dominante, para impedi-lo de se projetar no ocaso. O "até logo" do rei dos astros poria fim a todo aquele encantamento, e eu desejava fosse sem fim.
Alheio aos meus anseios, mesmo preso ao fascínio magnetizante das quedas d'água e o vapor espumante, a grande Estrela deu lugar ao crepúsculo e se embrenhou na escuridão da noite. De nada me valeria protestar; é uma lei do universo. Mas, aquele distante dia, enquanto eu viver, permanecerá entre as memórias mais festivas e sublimes da minha vida.
Rubens de Oliveira Machado - Cel PM
Acadêmico Fundadora da Cadeira nº53