A cidade de Anhanguera, varzeando o rio Paranaiba, a um grito das Minas Gerais, integrava o circuito das viagens de trem, nesse período de prosperidade e ventura.
Em paz com a vida, nesse lugarejo abençoado por Deus ,onde vivi intensamente dos nove aos quatorze anos ,desfrutei dos tempos áureos de uma era, diria mesmo, romântica, da " estrada-de-ferro em Goiás.
Nesse pedacinho de terra ,fantasiando minhas aspirações pueris , idealizava a minha "Terra do Nunca", ora me banhando, às escondidas, nas águas do Pirapitinga, ora amanhecendo na fazenda do "Seu Justino" , pra beber leite do balde da ordenha, e, às vezes, admirando a beleza do rio, magníficada pela passagem do "trem" sobre a majestosa ponte de aço.
O pósludio desse cotidiano era o compartilhar , já no crepúsculo ,a chegada e a partida do trem de passageiros.
A alegria de todos, naqueles momentos, transpirava um quê de reposição de ânimo e vida. Moças, rapazes e crianças se alvoroçavam à chegada da locomotiva, assim como se recebe um grande ídolo.
Da parada do trem até o apito do "juizinho", compravam-se jornais, a última edição da revista " Capricho, a nova " Grande-Hotel, e outros supérfluos. Também se estabeleciam novas amizades, e se encaminhavam namoros. Era um momento HALLEY de um mercadejar de coisas e ilusões.
Logo, tudo voltava à calma, com a partida do trem, seguindo ao seu destino, levando esperanças e deixando saudades para embalar sonhos.
E o tempo indo insensível a tudo, cada vez mais veloz, desfez-se do trem, da ponte , das tardes na estação e da nossa juventude. E hoje, com requintes de crueldade, deixa instalada em nossa alma uma obsessão incontrolável por recuperar da história uma parte, infelizmente já arquivada.
Rubens de Oliveira Machado - Cel PM
Acadêmico Fundadora da Cadeira nº53
2 comentários:
Cel Rubens, grande referência, compartilhando momentos inesquecíveis em crônicas perfeitas . Parabéns! 👏👏
O tempo é inexorável. A evolução das coisas o acompanha. Assim, seguimos vivenciando novas histórias. Parabéns cmt.
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