terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

O DIA EM QUE O PODER MUDOU DE MÃOS

Quando era criança tinha um garoto brigão que sempre decidia quem poderia ou não participar das nossas brincadeiras. Ele tinha um poder inexplicável sobre as demais crianças e ninguém ousava questionar suas decisões, por mais absurdas, arbitrárias e infundadas que fossem. Cada semana ele escolhia os seus alvos e parecia ter um prazer sádico em ver todo mundo obedecendo, sem questionar, as suas ordens. 

Eu mesmo não queria ser o primeiro a enfrentá-lo, também tinha medo de entrar em sua lista negra, mas costumava pensar sobre o porquê ele tinha tanto poder. Por qual motivo a gente nunca pensou que poderíamos unir forças e juntos derrotar o garoto valente? Não haveria alguém mais forte do que ele?

Daí aconteceu uma situação inusitada. Chegou no bairro um outro garoto, que era muito tímido e sempre ficava na varanda de um sobrado observando nossas brincadeiras e vendo a forma como o valentão usava e abusava de sua autoridade, humilhando quem ele não gostava. Começaram a surgir rumores sobre aquele novo morador do bairro, de que ele era faixa preta de karatê, que onde ele morava antes, ninguém tinha coragem de enfrentá-lo e que ele tinha um senso de justiça bastante apurado tendo colocado vários outros valentões em seu devido lugar. 

Certo dia, ele observava as ações do garoto mandão e, não aguentando mais, gritou da varanda: - Ô seu verme! Estou vendo o que você tem feito com as outras crianças! Me espere aí que quero ter uma conversa contigo sobre suas ações. 

O garoto valentão ficou com tanto medo, só das ameaças, que imediatamente começou a tratar as outras crianças com educação, chamando aqueles que havia excluído da brincadeira para voltarem ao jogo e passou a fingir que era uma boa pessoa. Naquele dia, todos puderam brincar na pracinha. Foi um dia feliz, apesar das ameaças veladas que o valentão continuava a fazer. Todos ficamos ansiosos pelo que poderia acontecer com a vinda do nosso salvador.


Giuliano  Miotto Borges 

Acadêmico Fundador da Cadeira nº32


2 comentários:

Coronel Ronaldo Soares disse...

Parabéns Dr. Juliano. Ativando a memória afetiva de muitos de nós 👏👏👏

HelDam disse...

Rindo aqui e ao mesmo tempo ativando memória de história similar quando frequentava o "grupo escolar" no fundamental.
Parabéns por nos trazer uma narrativa ritmada e capaz de trazer lembranças de infância

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