quarta-feira, 7 de agosto de 2024

OS BIFES DA MÃE DITA

Todas as vezes que eu vou preparar os bifes  em minha casa, cumpro o mesmo ritual feito pela minha avó.

Em qualquer local  da casa se sabia que ela estava preparando um suculento bife. Em todo o canto se ouvia os tec tec tec tec tec tecs . Eram os  bifes que colocados em cima da tábua de carne recebiam suaves golpes da faca. Eram sutis golpes de curta distância uns dos outros. Um a um iam sendo golpeados ora na horizontal e após na vertical. Feita esta  cerimônia, os bifes iam para frigideira em poucas peças. 




Se preferir ouvir o texto, clique acima!

Quando soltavam o caldo,  ela o transferia  para uma vasilha e continuava com a carne ali para ser dourada.

Contava ela que em época de carestia, o seu filho vendo que não tinha carne dizia para ela bater a faca na tábua.  Assim os vizinhos não suspeitariam das dificuldades na cozinha. Ela ria e dizia a ele:   deixa de bestagem menino, por acaso vamos fabricar o cheiro também?

Quando todos os bifes estavam dourados, ela fritava cebola na frigideira,  voltava com  os bifes para a panela e por cima jogava  todo aquele caldo retirado anteriormente. O cheiro exalado era soberbo. Um verdadeiro convite para o paladar.

 Até hoje recorro ao mesmo processo.

Certa vez convidei uma amiga para um almoço em minha casa. Ela era uma cozinheira de mão cheia e quando me viu maltratando os bifes no mesmo processo da minha avó ficou indignada e me disse que assim perderia toda a suculência da carne. Continuei a minha saga e quando ela experimentou já queria a receita.  

Se é pra fazer bife, tem que ser batido com muitos tec-tec-tec-tecs. Seja de colchão duro, colchão mole ou filé. Perco a suculência mas não perco minha história e aquilo que me ativa boas memórias.


Helena Aparecida Damásio - Coronel PM

Acadêmica Fundadora da Cadeira    58


23 comentários:

Anônimo disse...

Achei maravilhoso. Como sobrinha lendo essas memórias me fizeram além de me sentir mais próxima da bisa que não conheci, também me recordei dos almoços na sua casa, ouvindo a carne ser batida, ouvindo os legumes sendo cortados.. muita saudade dessas pequenas coisas do dia a dia

Anônimo disse...

Me lembrei de minha mãe, dona Dú Barreto, apelidada de duzinha mas que na verdade se chamava raimundo!
Não era grande cozinheira não, mas as poucas que fazia sempre tinha o mesmo gosto...rsrsrs....costuma encher a paciência dela afirmando que era a comida do dia anterior com roupagem diferente.
Parabéns minha amiga Helena, você inspira!

Anônimo disse...

Eu o bisneto mais velho, me recordo bem desse delicioso momento de minha vida pois tive o privilégio de conviver alguns bons anos com a saudosa mãe Dita.
Sempre nos finais de ano quando estavam reunidos filhos, netos, bisnetos, genros e noras, sempre se esperava a hora do famoso e delicioso bife da Mãe Dita.
Esse texto me remeteu (literalmente) a um delicioso momento vivido por mim.

Anônimo disse...

Memórias sensoriais da Mãe Dita. Seus bifes acebolados, macios e suculentos. Saudades eternas.

Anônimo disse...

Minha amiga querida, quanta leveza nesta “pena” que adestra a alma da gente!

Rosimeire disse...

Tec,tec, doces memórias! Hum, comida de mãe, por mais simples que fossem, sempre incomparáveis! Lindo Helena, esse reviver ! Delícias guardadas no coração! Mais uma vez 👏👏👏👏👏😘

Anônimo disse...

Que lindas memórias 👏👏👏👏

Anônimo disse...

O texto me remete à casa de meus tios na rua 15 de novembro .
O cheiro invadia não só o paladar,mas a alma ,num simbolismo quase que invisível, indivisível, irremediável palpável.
Na pensão dos motoristas ,do meu tio Raul e da minha tia Etelvina., dos meus primos ,que nos tratavam com muita amizade e carinho. Me lembro dos dias que eu e meu irmão tivemae mos que ficar ali alguns dias ,enquanto minha mãe acompanhava meu pai em Goiânia em tratamento de saúde .Aquele cheiro e sabor do bife nunca foram esquecidos.
Seu texto está maravilhoso Miss Lady
Maravilhosa, carinhosa Helena.

Anônimo disse...

Comida de mãe é muito boa

José Custódio dos Santos disse...

Mãe Dita sabia das coisas. Meu convívio com ela teve uma curta duração mas foi o suficiente para notar que ela tinha muita sabedoria. Ainda bem que minha Comadre Helena, com o seu dom, consegue registrar estes conhecimentos e assim as próximas gerações poderão usufruir deles.

Anônimo disse...

Recordar é viver… ainda mais quando trás boas lembranças! Me remeteu ao tempo de criança quando ficava vendo minha mãe fazendo tec, etc, tecs! O bife além de ficar macio tinha gosto de carne de verdade, aquelas ceboladas por cima só acrescentava ao paladar a delicia do bife bem feito. Hoje é tudo diferente a preparação é diferente o corte do bife é diferente e as pequenas coisas vão esvaindo pelo tempo.

Antonio Henrique Braga disse...

Nossa lembro-me da minha querida Mãe Helena que também fazia o mesmo, exatamente o mesmo ritual com os bifes. E o incrível é que minha saudosa Mãe era mineira lá de Uberaba. Até hoje sentimos saudades daqueles bifes.

Anônimo disse...

Paulo César Géa

Anônimo disse...

Esse texto, deu água na boca. 😋

Anônimo disse...

Helena, na minha família tbm tinha esse costume, hoje nem tanto. Mas de vez ou outra uso esse procedimento. A carne do ica bem gostosa, mesmo!

Anônimo disse...

Estou conhecendo Mãe Dita pela voz de Helena. Helena, amorosa mãe, grande mulher, honrada profissional e amada amiga... , assim como a avó "Mãe Dita", deixa nos encantada com a leveza e a singeleza de atos expressos em contos ricos de memórias de ricos momentos vividos. Duas grandes mulheres!!!!
(Esperando o conto sobre como preparar o frango e a elegância ao prepará lo. Lembra que me contou?!)
Ioni Carvalho

Anônimo disse...

Ah como essas recordações nos alimentam a alma, a memória, a vida. Ao ler, pude ver minha avó materna fazendo biscoitos fritos que comíamos com chá de alfavaca, me lembrei de como ela tinha um verdadeiro ritual de amor para as tardes de biscoitos e chás. Mas, mais do a comida em si, o que fez e faz diferença é o carinho e amor com que vivíamos aqueles momentos, eles sim ficam gravados na memória. Obrigada pela partilha, amiga!

PROFESSORACELIALELES disse...

Amada Helena, quanta leveza nesta “pena” que adestra a alma da gente!

Anônimo disse...

Eu adorava parabéns

Anônimo disse...

Que maravilha poder viajar no tempo através de suas palavras, você realmente nos proporciona lembranças que aquece a alma. Muito sucesso querida Helena.

Maxwell disse...

Que lembrança e que estória maravilhosa, minha amiga. Deu vontade de experimentar esse bife macetado. 😋

Marciapsico17@ disse...

Memórias afetivas! Olha como são fundamentais em nossas vidas. O ritual do bem viver,acolher e cuidar. Amando cada momento.

Anônimo disse...

Isso me faz lembrar minha infância e voltar no tempo, parece que estou vendo minha mãe fazendo o almoço e preparando um belo bife para nós, seus filhos!
Quanta saudade desse tempo em que havia muita simplicidade, porém a sabedoria para preparar o alimento, principalmente o bife era herança dos avós que realmente sabiam como cozinhar, uma verdadeira arte!

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