Cheguei muito atrasado para o encontro. Nos cumprimentamos com um abraço e beijos no rosto. Era uma reunião importante, mas não conseguia me concentrar no que estava sendo dito. Olhava e via apenas os lábios se mexendo e eu concordava ora com um gesto, ora com algum monossílabo.
Fico pensando em como as pessoas valorizam tanto essas questões sociais. Queria só que tudo acabasse logo e eu pudesse ir embora. Estava angustiado e ansioso em voltar para minha solidão. Para o meu pequeno quarto no quarto andar de um prédio caindo aos pedaços e sem elevador.
Algo me fascinava naquele ambiente sujo, decadente e sem perspectiva. Talvez fosse uma imagem refletida da minha alma. De qualquer forma, era o meu mundo onde ninguém em sã consciência ousaria visitar.
Ali eu podia me deleitar nas formas da parede mofada, cuja tinta estava se descolando em pequenas lascas que se enfarinhavam ao toque das mãos.
Ali eu tinha uma verdadeira obsessão pelo fim. O fim de cada dia, o fim da semana, do mês, da vida.
Parece que sempre estamos esperando o fim de alguma coisa. Mas temos pavor de pensar no fim de todas as coisas, no momento em que não haverá um despertar pela manhã, que o sol não irá mais nascer, que a lua não completará seus ciclos e que não se ouvirá mais as vozes do mundo.
Gosto de pegar as cascas que se descolam da parede e penso que elas representam os pedaços de nossa vida que se perdem a cada dia e logo se fragmentam no substrato das memórias.
Giuliano Fabrício Miotto Borges de Freitas
Acadêmico Fundador da Cadeira nº32
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