PORTAL

Devo ter atravessado algum tipo de portal. Não me lembro de haver um lugar como esse na minha Cidade. Não faço nem ideia do que significam essas letras e nem para onde elas apontam. De qualquer forma, as pessoas continuam fora do meu alcance. Estendo as mãos, tateando as sombras em busca de algo indefinido. 

Meu coração dispara ao ouvir um estalido, como um galho seco se quebrando em uma floresta. O problema é que não há árvores por aqui e nem sinal de seres vivos. Nem eu tenho certeza de que estou vivo. 

Pode ser que esteja mergulhado em outro sonho lúcido. Ou que tenha morrido enquanto dormia e agora não passo de um agrupamento persistente de partículas quânticas, entrelaçadas por uma frágil força gravitacional e delirando sobre a existência. 

Sabe quando algo passa muito rápido, deixando um rastro de si, visível por milésimos de segundos? Quase imperceptível aos olhos nus. Ou, quando olhamos muito tempo para uma luz forte e, mesmo quando fechamos os olhos, continuamos vendo aquele flash? Este sou eu no momento.

Preciso me recompor. 

Giuliano Fabrício Miotto Borges de Freitas

Acadêmico Fundador da Cadeira nº32